
Dáfnis e Cloé, também chamado de “As pastorais”, é um romance escrito por Longo, no século II ou III d.C. O romance, ao estilo bucólico se passa na ilha de Lesbos. Dáfnis e Cloé, duas crianças abandonadas pelos pais, são criadas por pastores, e acabam se conhecendo. Ao longo da narrativa, no convívio diário, as duas personagens vão, aos poucos, se apaixonando uma pelo outra, até que, finalmente, se casam e conhecem, enfim, os prazeres de Eros.
Inicialmente chamado Pastorais, o romance é considerado um idílio bucólico em prosa, mostrando várias características em comum com a lírica bucólica de Safo, Teócirito e Virgílio: cenário rústico e rural, o aspecto suave e delicado, e, sobretudo, pelo colorido poético conferido à narrativa. A trama atemporal, por sua vez, é assinalada pela sucessão das estações do ano, com a passagem dessas estações espelhando o sentimento das personagens. Fixando a narrativa no próprio cenário de origem dos amantes, o autor de Dáfnis e Cloé confere à obra uma situação estática,
característica do cotidiano dos campônios. Esse recurso enseja um maior destaque à força do amor que move as personagens ao longo do relato amoroso, desde os confusos e ingênuos sentimentos da infância até a plena maturidade sexual, e essa sensualidade e erotismo decorrem do envolvimento dos jovens com a natureza, afinal de contas, a personagem maior de toda a trama amorosa. Essas características fazem com que Dáfnis e Cloé se distancie dos demais romances gregos de amor, considerados como narrativas de viagens, onde as grandes aventuras (viagens, sequestros, desencontros, separações etc.) dificultam sobremaneira a concretização do desejo amoroso dos amantes.
Outra característica marcante de Dáfnis e Cloé é a onipresença da religião. Eros aí reina soberano, pois toda a trama do romance converge para o descobrimento do sentimento amoroso. E no desenvolvimento e pleno amadurecimento dos jovens apaixonados também exercem a sua influência as Ninfas, Pã e Dioniso, nesse romance caracterizado, desde o prólogo, como uma sequência de pequenas cenas, uma após a outra, criando assim um grande quadro, uma autêntica “obra de arte”.
Texto retirado da tese de mestrado de Elisa Costa Brandão de Carvalho

“…Dáfnis, contudo, não conseguia alegrar sua alma, desde que vira a nudez de Cloé e sua beleza, antes oculta, revelada. Doía-lhe o coração, como se devorado por venenos. Às vezes a respiração lhe saía ofegante, como se alguém o perseguisse, às vezes sufocava, como se extenuada pelas incursões anteriores. E o banho dela parecia-lhe mais temível do que o mar. Julgava que sua alma estava ainda entre os piratas, como jovem que era e camponês, desconhecedor ainda da pirataria do amor.”
Dáfnis e Cloé, de Longo de Lesbos –Livro Primeiro
Tradução Luiz Carlos André MangiaSilva